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20 de novembro de 2015

>OAB dá título póstumo a advogado de escravos

No final de 1840, com 10 anos de idade, Luiz Gama foi colocado à venda em Campinas depois de ter sido vendido pelo pai, em Salvador, para pagar dívidas de jogo. Mas ninguém comprou. Ficou, no mercado da última cidade do País a abolir a escravidão, como uma espécie de mercadoria encalhada. Era baiano, e escravos baianos tinham fama de rebeldes, de fujões. Gente assim não era boa para ter nas fazendas. O menino cresceu, construiu uma história extraordinária e tornou-se um rábula — conhecedor de leis que exerce a advocacia sem ser advogado. Sua história ganhará mais um capítulo na terça-feira. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lhe concederá, após 133 anos de sua morte, o título de advogado.

A homenagem ocorrerá em cerimônia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que preparou uma série de eventos em homenagem a Luiz Gama para discutir o seu legado, a escravidão e os direitos sociais, entre outros temas. Nesse evento, a OAB oficialmente irá inscrever em seus quadros o jurista, uma das grandes figuras do abolicionismo. Será a primeira vez na história da ordem que uma cerimônia assim ocorrerá.

Mesmo que tardia, é o reconhecimento a um negro liberto que se tornou libertador de negros — ele conseguiu alforriar, com recursos judiciais, mais de 500 escravos. Rábula, poeta, abolicionista, Gama tem sua história ligada a Campinas pela escravidão. Nascido livre, filho de mãe africana liberta e de pai português, acabou vendido em Salvador e levado ao Rio de Janeiro, ao traficante português chamado Vieria, que revendeu a “mercadoria” junto com um lote de cem escravos para o alferes Antônio Pereira Cardoso. Depois de chegar ao Porto de Santos, o menino e os outros negros do lote tiveram que vir a pé até Campinas.

Como mercadoria encalhada, acabou virando escravo doméstico na propriedade do alferes, em Lorena. Lá, aos 17 anos aprendeu a escrever. Alfabetizado, fugiu do cativeiro e se alistou na Força Pública da Província, graduando-se cabo. Ficou ali até 1854, quando, segundo consta em sua biografia, deu baixa por um incidente que ele classificou como “suposta insubordinação”, já que apenas se limitara a responder o insulto de um oficial que ele classificou como “suposta insubordinação”, já que apenas se limitara a responder o insulto de um oficial.

Gama tentou cursar direito no Largo São Francisco, na Universidade de São Paulo (USP), mas, por ser negro, enfrentou a hostilidade de professores e alunos. Mesmo assim, persistiu como ouvinte das aulas. Não concluiu o curso, mas o conhecimento adquirido permitiu que atuasse na defesa jurídica de negros escravos. Conseguiu provar sua condição de livre e se tornou um grande defensor da abolição. Conseguiu, via judicial, libertar muitos negros. Alguns textos falam em mais de mil libertos.

Destacou-se como jornalista e projetou-se na literatura em função de seus poemas, em que satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Gama se autodenominava Orfeu da Carapina. É reconhecido como um dos grandes representantes da segunda geração do romantismo brasileiro. Em 1869, fundou com Rui Barbosa o jornal Radical Paulistano e em 1880 foi líder da Mocidade Abolicinista e Republicana. Ele ganhou notoriedade por defender que, ao matar seu senhor, o escravo agia em legítima defesa. Morreu em 24 de agosto de 1882 e está sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Escrito por:
Maria Teresa Costa/AAN


3 comentários:

  1. Vontade de vencer, não lhe faltou...
    Tomara esteja presente, em espírito, na homenagem que lhe será prestada em São Paulo. É bem possível.
    Foi bom vir aqui Jota Araújo!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. oiiiii...gostei.Muito interessante essa historia,obrigada por contar.Bju.Luciene.

    ResponderExcluir
  3. Uma história de vida, emocionante e tocante!...
    Adorei ficar conhecendo!
    Tardia... mas uma homenagem e reconhecimento mais que merecidos!
    É sempre enriquecedor, passar por aqui, e apreciar seus posts, J. Araújo!
    Uma tremenda partilha, por aqui!... Grata por isso...
    Abraço!
    Ana

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